Prazeres

[sem divagações genéticas à mistura]

Esta mãe sempre gostou de ir ao café. Habituei-me, de pequena, a apreciar os momentos que ali passávamos. No Salão de Chá (e que velha me sinto), os pais tomavam o café e nós, cá fora, brincávamos; éramos muitos, por vezes. Ali, falava-se da escola, de política, de futebol e da vida. Depois, o Salão de Chá fechou e mudámos o sítio habitual. Mais tarde, o café com os amigos. No Porto, o café, muitas vezes, sozinha e acompanhada de livros, revistas ou do mar. É, sem dúvida, das coisas que me dá prazer. Gosto daquele ambiente de despreocupação, de observância de quem entra e de quem sai.

Há, neste ritual do ir ao café, muito mais do que o consumo. Ali se juntam amigos, primos, famílias, na companhia agitada da cafeína ou no conforto do chá de camomila. No calor, alia-se o prazer da esplanada. Não se vai a Lamego sem uma ida ao café. Ou duas. Ou dez. Faz parte.

A Mimi herdou este gostinho. De licença, no carrinho, lá íamos as duas... Foi crescendo e gosta de ir. Quando há tempo, durante a semana, lá vai mais um cafezinho (para nós) e um lanchinho (para ela). Temos, no inverno, um ou dois locais, mais ou menos fixos. Vai direitinha à porta, senta-se e, senhora de si, pergunta pelo seu sumo de naranja.

- Eu não bebo café. É a mãe e o Pai. Eu bebe sumo de naranja.
Nós achamos graça, sim. No final, gosta de ir pagar. Com qualquer criança, claro.

Há uns dias, poucos, veio, para mim, um carioca de limão. Pediu-me que lhe desse um ‘cadinho. Eu disse-lhe que não deveria gostar e que estava muito quente. – Góto, sim, Mãe. Eu já bebi no café de Lamego. Verdade. E já tinha sido nas férias do Natal!

Vamos construindo o gosto pelas pequenas coisas, tão sem valor e, ao mesmo tempo, tão criadoras de memória. 
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