Carta ao meu primo João
19 de outubro de 2017
Querido João,
Parabéns! Hoje é o teu dia e,
tenho a certeza, estará a ser um dia feliz. Já não nos vemos há uns anos mas
sei que haveremos de voltar, um dia, a encontrar-nos.
Olho para trás e vejo como,
estupidamente, o tempo passou rápido demais. Lembro-me (tantas, tantas vezes)
dos nossos dias. De como rebolávamos na relva, à noite, enquanto os crescidos tomavam café. De quando a sala
de jantar era uma (quase) sala de estudo e, à saída da minha mãe, vocês jogavam
tazos e até os atiravam pela janela.
De quando o Pedro dizia que era tudo facilíssimo
e nós achávamos um piadão. Lembro-me quando furaste a orelha com o compasso e
me apeteceu bater-te por isso. Ou quando riscavas os braços só porque sim. E
das viagens de comboio quando, num mundo só nosso, ouvíamos Red Hot desde Campanhã até à Régua.
Lembro-me, João, das tuas mãos,
do toque da tua pele. Lembro-me quando me dizias que era a tua prima favorita.
Lembro-me, sobretudo, que mo fazias sentir e isso não sairá de mim. Lembro
(tanto) o teu abraço. O mesmo abraço que tu procuravas e de onde era eu que
saía confortada.
Depois, as curvas, contracurvas e
as dores que provocaram. Não falemos disso agora. Hoje, é o teu aniversário, um
dia bom e estás de parabéns. Sei que estarás feliz com muito do que se passa
aqui por baixo. E, assim acreditando, (re)vejo o teu sorriso e tranquilizo.
Há uns vinte e um, vinte e dois anos,
por esta hora, estaríamos a cantar-te os parabéns, com o bolinho de ananás que
a minha avó fez (estamos velhotes, portanto). Foi tão boa essa tarde, esse lanchinho surpresa. Eu, tu, o meu
irmão, o Pedro M., a Joana, a minha avó, o Padrinho. Hoje, não há o nosso bolo
favorito, que a minha avó já não está capaz. O Padrinho já te deve ter dado o
abraço do costume, que ele não era bom com datas, mas aí tudo se sabe. A minha
mãe já te puxou as orelhas uma boa dúzia de vezes, pois gosta de festejos mais
moderados do que aqueles que a tua euforia permite. E, por aqui, eu continuo a
ver-te, de vez em quando, quando os meus olhos se cruzam com um rosto moreno,
de óculos e de idade idêntica à nossa.
Não te perdoarei, João, não teres
conhecido a Mimi. Ou então perdoo, sim. Porque, afinal, nos perdoamos, aos
dois, quase tudo. E a Maria já sabe de ti. Pouco ainda, mas já sabe. E saberá
mais ainda quando crescer. Saberá que o João é seu primo, que a vida nem sempre
lhe sorriu mas que soube sempre manter o sorriso, o abraço, a lealdade e a
gratidão que a mãe tanto defende.
Serás sempre uma lição de vida,
João. De resiliência e também de como a falta dela não é o melhor caminho. E eu
gosto de ti, João. Tanto… Foi bom crescer contigo. Continua, se puderes, a
crescer connosco.E hoje, mais uma vez, porque será sempre o teu dia, parabéns, querido João. 💓
Um beijinho,
Ana
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