História de B., ou o porquê da menina mimada

"Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer."

[JorgePalma]


Não chegou o sono ainda. Lá fora, o escuro prolonga-se pela estrada que vejo da janela. No relógio, em tons de azul de mar, o tique-taque aproxima-se de uma hora em que já devia dormir. Relembro a viagem, a companhia. Viagens antigas. Companhias de sempre, que talvez se tenham perdido entre sonhos e desejos, que deixei do outro lado do arco-íris. Porque sim. Porque assim tem que ser. Porque a vida só é colorida nas margens do Mississipi, quando Tom Sawyer caminhava descalço e era feliz. Tenho saudades de tirar os sapatos e sentir a terra e a areia debaixo dos pés.

Mimada eu? Porque sim.
B. é amigo de longa data. Alguns anos de escrita na parte de trás de muitas fotografias que fomos tirando, longe ou perto. Chegámos a acreditar que seríamos donos do mundo. Não por ambição ou presunção. Sonhos, apenas. Muita vontade de partilhar coisas boas, afectos e a terna esperança de que a nossa vontade bastasse para pintar quadros giros, ao longo da estrada. Disse-lhe que ele era importante, que só ele me poderia ajudar na concretização de um pequeno passo. E assim se fez. Ganhámos. Ganhou B., porque eu parti no seu encalço. Gosto de B. Muito.

Sou incondicionalmente viciada em mar e no som que sempre me fica no ouvido. Sonhei até (tonta, eu) ser a estrela-do-mar de Jorge Palma, pois sei que "só a ele obedeço, só ele me conhece, só ele sabe quem sou, no princípio e no fim". Adiante.
Sou incondicionalmente viciada em mar e B. também. Descíamos um pouco até à Foz. Frequentemente. Um dia (uma tarde, bem sei... que há hábitos que nunca mudam) falávamos sobre a melhor forma de gerir um pequeno saldo para...festas. Amuei. Como sempre, pensará B. ao ler isto.
Amuei mesmo e B. amuou também. Sem consenso possível, disse-me: "Sabes o que é isso? Caprichos de menina mimada." Caprichos de menina mimada. Não esqueci.

Perdi B. de vista durante uns tempos. Antes de seguir outro rumo, fez-me pensar e repensar uma difícil decisão. Afinal, B. era importante para mim, tal como o que me dizia. Hoje, B. é ainda (muito) importante para mim.
Tinha que justificar o nome do blog. Devo-o a B., que (re)encontrei, para presenças quase diárias e fundamentais, anos mais tarde. Creio que chegou num pequeno aviãozinho, numa velocidade que ultrapassa as nuvens e trazia na cara o sorriso de sempre. Chegou, de novo, para ficar. Continua a dizer que amuo e que sou mimada. Não sou, B., bem sabes. E gosto de ti da mesma forma. Muito.

Talvez hoje precisasse de outros registos.
Talvez hoje me apetecesse procurar um lugar ermo.
Talvez hoje me apetecesse enroscar-me no sofá e ter cinco anos.
Talvez hoje tivesse mesmo que escrever coisas boas e ouvir músicas que me levam até ti.
Talvez hoje eu deseje muito, muito voltar atrás e concretizar tantas, tantas coisas que fui deixando na margem.
Talvez hoje eu queira muito adormecer e, ao acordar, sentir vontade de oferecer sorrisos ao dia que nasce.

Hoje, especialmente, um beijinho muito especial à J. Admiro a tua bondade e simpatia. Sou feliz porque fazes parte da minha vida e de uma família muito especial. Gosto de azul e verde-mar.
E para ti? A vida. És, mesmo, o meu mimo maior. E "eu não saberia não te ter".

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