Ciganita, eu






Há discussões em que dificilmente alinho. A da integração ou não dos ciganos é uma delas. Tenho uma visão e experiência que são diferentes da maioria e é difícil fazer valer alguns pontos de vista. Erradamente, talvez, desisto antes mesmo de começar.



Não consegui ver as reportagens que passaram sobre os ciganos. Creio que um dos objetivos seria dar a conhecer algumas das características que lhes são próprias e que nos são desconhecidas. Bom sinal.





Fui vizinha, durante anos, da comunidade cigana de Lamego. Vivíamos com umas quatro ou cinco portas pelo meio. Gosto deles. Gosto mesmo. Sempre os vimos como iguais, vizinhos como os outros. Ouviam música mais alta, mas atraía-me aquele som. Não havia muitas paredes a separá-los, mas achava graça aos almoços e jantares que faziam, de porta aberta. Eram muitos e pareciam felizes. Tive pena, quando se mudaram.

Era miúda e fascinavam-me aquelas saias compridas, os brincos enormes, os cabelos longos e a pele morena. Tudo o que eu não usava nem tinha. Era a diferença, sim. Mas sempre foi, ali, uma diferença boa.

Sei que alguns são bandidolas. Quantos de nós não são? Sei que muitos estão fora da lei. Quando de nós, também? Custa-me (isso sim) que nem todos estudem, que as meninas casem cedo e sem literacia. Mas acredito na evolução e, também, na sua capacidade de mudança. Vai chegar e, aos poucos, já se faz sentir.

Mas do bom se escreve também a sua sina. Admirei-lhes sempre o respeito, mesmo quando desrespeitados. Eu sei que não é sempre assim, nem em todo o lado. Ali, foi. Falava o Sr. João Cigano (que assim é conhecido) e era ouvido. Assertivo, sabedor da vida e sempre educado. A família está acima de tudo, sem condições ou devaneios. O que falta, afinal, a tantos ditos da maioria.

A minha mãe foi madrinha de algumas meninas ciganas. Chama-me ciganita, de vez em quando. E eu gostava, achava graça (se podia ser do mar, então ciganita seria também).  Afinal, estava ali a liberdade da rua, a música alegre, o corpo torneado em cada dança.

Sou Serei sempre pelas minorias (assim me fui fazendo). Sou por esta minoria com um carinho maior. Porque me custa vê-los olhados de lado, afastados. São diferentes, sim, e aprecio essa diferença e o que ela traz de bom. Um dia, estarão integrados sem que seja necessário perderem as suas tradições. Será duro para eles, mas a abertura tem de vir deste lado. Dos da maioria.
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