11.01.18 | A minha Avó







A Avó foi, na morte, como na vida: serena e linda.








A Avó era e há de sempre ser a mais bonita. Em tudo e com todos. Guardou, no seu abraço, a Mãe, os irmãos, as filhas, os netos, os sobrinhos, os vizinhos, os que batiam à porta e todos os que lhe pediam a mão.

A Menina Zulmira foi um exemplo. Ensinou-nos que não há preconceitos e que somos todos iguais. Mostrou-nos, dia após dia, durante anos e anos, que, na mesa, há sempre lugar para mais um ou dois e que devemos abrir a porta a quem nos procura.

A Avó mostrou, com a vida, que a solidariedade deve fazer parte de nós e que os outros estão sempre em primeiro lugar. Ela vinha depois de tudo e depois de todos.
Ensinou-nos a brincar, a partilhar e a crescer. Ensinou-nos a rezar ao Anjo da Guarda e afastava a trovoada com a ajuda de Santa Bárbara.

A Avó vestia-nos e deitava-nos e éramos sempre os mais bonitos. Como todos os que a procuravam. Fazia os melhores doces do mundo e as festas eram festa porque as preparava como se fossem a mais importante.

A Avó sorria sempre, mesmo quando a Vida lhe pregou partidas. Tinha uma incondicional paixão por Lamego, pela Senhora dos Remédios, e sempre acordava pela meia-noite, para rezar por quem precisasse.

A Avó gostava sempre de estar bonita e, com algumas décadas de estrada percorrida, manteve bem longe a palavra “desistir”.

A Avó Zulmira preocupava-se com todos como se ainda fossemos pequeninos, mantinha o brilho enorme no olhar quando nos via e, mesmo atraiçoada pela memória, nunca esqueceu nenhum daqueles que viviam no seu coração.

A Avó Zulmira deu colo aos bisnetos e isso não se traduz em palavras. Dá-lhes sempre a mão, Avó, e leva-os pelos caminhos por onde nos levaste e nos fizeste chegar até aqui.

A Avó Zulmira é uma menina pequenina a quem já não podemos dar um beijinho (e que reclamava pelos beijinhos que não lhe dávamos) mas que sempre, sempre, sempre terá, em cada passo da nossa vida, o reflexo do que foi e do tudo que nos deu. 

[texto lido, em Ação de Graças, na Missa de Corpo Presente. 12.01.08]


Comentários

  1. Que bonita homenagem, Ana! Obrigada por a partilhares! Bjs! Alexandra

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