E se fosse eu? Fazer a mochila e partir




Estive, muitas vezes, tentada a escrever sobre refugiados. Não consegui nem quis fazê-lo. Por vezes, o silêncio é escape.











Hoje, numa iniciativa da Plataforma de Apoio aos Refugiados em colaboração com a Direção-Geral da Educação, o Alto Comissariado para as Migrações e o Conselho Nacional de Juventude, pede-se aos estudantes dos ensinos básico e secundário "que se coloquem na pele de um refugiado e arrumem a sua mochila como se estivessem a fugir da guerra, a sair da sua casa e deixar o seu país".

Enquanto ouvia de manhã, na Antena 1, algumas notas sobre a iniciativa, dei por mim a pensar e se fosse eu? Uma mochila? A guerra a ficar ali atrás? Não, não, não, não. Mil vezes não!!!

Sou uma fraca!

Uma mochila? E o Rui, o meu pai, o meu irmão, a minha avó, os padrinhos, os tios, os primos, a família toda? E os amigos? Não cabem nessa mochila! Fotografias??? Não. Não dá. Tenho de levar as pessoas! E Lamego e todos os lugares e raízes que me fazem respirar? Não!

Sou uma fraca! Afinal, sou tão pateta que não consigo pôr-me nesta situação que me faz chorar (ou, quando não consigo mesmo, mudar de canal – já disse que sou uma fraca?) e que sei que deve doer mais do que quase todas as dores.

Sou a primeira a defender que devemos ajudar, dar a mão. Pudesse eu pôr a Maria às costas e ia dar a mão (e, na mão, água, comida, um casaco, sorrisos, um abraço). Mas bastou o pensamento do que seria estar ali, a sentir na pele as marcas da fuga e percebi que sou pequenina. Grandes são os que fogem, arriscam no desconhecido para proteger a vida e a dos seus.

Sei, claro, que teria de tomar uma decisão e fugir. Fugir. Mas neste exercício de imaginação, fujo sim, mas com o rabinho à seringa. Não sei o que poria na minha mochila. Não sou capaz. 

Sou uma fraca. E egoísta, talvez.

Mas vale a pena (vale sempre e muito a pena) pensar nisto. E se fosse eu? 





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