deste (triste) regresso à escola


Voltámos à escola esta semana. E não, não está tudo bem. Não, não estamos felizes. Não, não vai ficar tudo bem.

Deixei a Kikinha na sua escola, do outro lado da rua do Colégio. Pelo vidro do carro, naquela meia dúzia de metros que percorri, entrou uma tristeza que jamais imaginei sentir num primeiro dia de aulas, que sempre associo a dia de ansiedade, de sorrisos, de abraços, de corridas para o portão da escola. Quase nada foi assim.

Naquela meia dúzia de metros, vi dezenas de máscaras. Umas mais coloridas do que outras, mas todas elas num cinzento que mói. Senti que não ia conseguir controlar as lágrimas e deixei-as cair. Não permiti que a Mimi as pressentisse, sentada no banco de trás (e ela sabe e vê que a mãe chora, quando precisa, porque chorar faz parte). Afinal, era dia de alegria e chegar à escola não condiz com choro. Mas chorei, sim.

Naquela meia dúzia de metros, senti uma tristeza imensa. É a realidade, a nova realidade, a nova normalidade. É o rai’ que parta esta porcaria em que estamos metidos. Desci para a garagem com o coração apertadinho e um nó na garganta que não desatará tão cedo. E, lá fora, as máscaras em direção ao portão.

Miúdos com receio de se aproximarem de outros miúdos. Agora desinfeta, agora afasta-te, agora não toques. Agora tira a máscara e come e põe a máscara rápido. Agora não brinques aqui que o teu espaço é aquele. Agora desinfeta outra vez. O que é isto?

Tinha muitas saudades da minha rotina, daqueles miúdos. Gosto deles porque sim, mas dói-me a alma (e o corpo também, de ressentido que fica), ao viver dias assim. Por isso, não vai ficar tudo bem. Vão ficar memórias, nódoas mais ou menos negras na alma, que serão camufladas, talvez, mas que nenhuma pomadinha tirará para sempre. Irão (iremos...), um dia, ter sonhos com estes momentos. Contarão aos filhos, aos netos. E não será de forma feliz.

Tentamos, por agora, dar aos filhos, aos sobrinhos, aos amigos, aos alunos, uma falsa sensação de felicidade. Está tudo bem, miúdos! Só que, efetivamente, não está. Não pode estar quando passam um dia a contrariar aquilo para que nasceram: socializar, brincar, andar à porrada, esquecer o manual e pedir emprestado, dar beijos e abraços.

Já crescidos, que quase seis meses de distância acabam numa altura maior que a minha, viram as minhas lágrimas ao longo do dia. Já me conhecem, também, e sabem que a professora se emociona e é igualzinha a eles. Disse-lhes que ia correr tudo bem, pois sei que assim vai ser. Disse-lhe que estava cheia de saudades, porque efetivamente estava. Que é bom estarmos juntos, de novo e é tão bom! Mas, no meio de tudo isto, uma tristeza de vê-los daquela forma, receosos, com uma tranquilidade qb e uma máscara a que não me habituo. Não ao seu uso, mas à sua constante. É mesmo o rai’ que parta esta porcaria em que estamos metidos.

Canta-me ao ouvido, o meu companheiro, que a gente vai continuar. E vai, porque é longa a estrada p’ra andar. Mas torna-se mais pesado este passo que agora levamos. Mais difícil a respiração.

Não vai, em nós, ficar tudo bem. Mas havemos de lá chegar!

Que seja um bom ano letivo e que, das contingências, se façam alegrias. Seja de que forma for!

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